Ano Litúrgico
Com o primeiro domingo do advento iniciamos na Igreja um novo ano litúrgico. A cada primeiro domingo do Advento a Santa Igreja muda o seu Ano Litúrgico, diferentemente do ano civil que é numeral e a cada ano vai somando mais anos, o ano litúrgico dominical é trienal, e distinto pelas letras A, B e C. No mês de novembro de 2020 terminamos o ano A (Cristo Rei, 34º domingo do tempo comum) e a partir de Domingo dia 29 de novembro iniciamos o ano litúrgico B (primeiro domingo do advento), no ciclo dominical. Durante a semana o ciclo é de dois anos: impar e par – seguindo o ano civil.
Cada Ano Litúrgico dominical é dedicado a um evangelista sinótico, Mateus (A), Marcos (B) e Lucas (C). João aparece nos dias de festa e solenidades, e, principalmente no Tempo Pascal. Para que a cada ano tenhamos a experiência de acompanhar o ponto de vista de cada evangelista a respeito do conhecimento que tinham de Jesus. A cada Ano Litúrgico podemos acompanhar a teologia de cada evangelista e a maneira que eles transmitem a mensagem a respeito de Jesus. De uma certa forma ao final de 3 anos teremos lido na liturgia quase toda a Sagrada Escritura.
O ano B, que é o que iniciamos é dedicado ao Evangelho de Marcos. O centro do Evangelho de São Marcos é o segredo messiânico, ou seja, Marcos quer revelar aos seus leitores a identidade do Messias. Ao mesmo tempo humano e divino, Jesus Cristo vem instaurar um reino de amor e de paz para a humanidade. Marcos ao longo do seu Evangelho nos revela aos poucos quem é esse Messias e o que é o Reino que veio instaurar.
Por isso, o Ano Litúrgico é cíclico e se tivermos a oportunidade de todos os anos participar das Missas aos Domingos, poderemos acompanhar as peculiaridades de cada evangelista a respeito de Jesus.
Nas Missas durante a semana (feriais), o Ano Litúrgico é dividido em ano par e ano ímpar seguindo a numeração do ano civil. Nos dias feriais, as leituras evangélicas dispõem-se num só ciclo e se repetem todos os anos. Mas a primeira leitura e o Salmo distribuem-se em dois ciclos de modo especial no tempo comum. Assim sendo, se participarmos das missas durante a semana, ao final de dois anos passaremos por toda a Sagrada Escritura.
Como dissemos o Ano Litúrgico é cíclico e por isso o ano litúrgico é dividido em: Tempo do Advento, Tempo do Natal, Tempo da Quaresma, Tempo da Páscoa e Tempo Comum. Divide-se assim para animar a vida da Igreja e dar um sentido para as celebrações de cada tempo. Junta-se a essa organização também as cores da liturgia e as músicas que acompanham os vários tempos.
O Tempo Comum, contudo, é dividido em duas partes. A primeira parte se inicia logo após a festa do batismo de Jesus, pois Ele, a partir desse momento, inicia a sua vida pública até o início da quaresma. A segunda parte acontece após a Solenidade de Pentecostes e vai até o Tempo do Advento. O Tempo Comum é um tempo da igreja, de esperança e de escuta fiel da Palavra do Senhor, por isso a cor predominante é a verde, que é a cor da esperança. O Tempo Comum estimula o fiel a ser sal na terra e luz no mundo e construir aqui na terra o Reino de Deus.
O Ano Litúrgico é assim divido para que em cada Tempo possamos aprofundar um aspecto da espiritualidade católica. No Advento, vivemos a expectativa da vinda do Messias, no início mais com relação ao final dos tempos, mas também, do nascimento do Salvador, e preparamos o nosso coração através da oração e ficamos vigilantes aguardando o Natal. O Natal é um tempo de alegria, a Igreja se veste de branco e a partir do nascimento de Jesus na manjedoura, um mistério nos liga a outro, ou seja, o nascimento nos prepara para aquilo que celebraremos na Páscoa. Em seguida celebramos a primeira parte do Tempo Comum e somos convidados a sair em missão com Jesus e construir o Reino de Deus aqui na terra.
A partir da quarta-feira de cinzas entramos no Tempo da Quaresma e somos convidados a entrar em clima de penitência, oração e jejum. Fazer uma boa confissão, uma revisão de vida, e somos convidados a mudar de vida e ressuscitar com Cristo para uma vida nova. E assim, ao celebrarmos o Tempo da Páscoa a Igreja se reveste de inteira alegria, festejando a vida que venceu a morte e todos os fiéis que foram lavados pela água do batismo. E por fim, após Pentecostes volta o Tempo Comum e somos impulsionados pelo Espírito Santo a sair em missão e anunciar a boa nova. Junto com esse esquema litúrgico acompanha também as cores litúrgicas e os cânticos próprios da época.
O Ano Litúrgico nos ajuda a lembrar que Cristo deve ser o “centro” das nossas vidas e conduz a nossa vida, de nossa família, do nosso trabalho. Por isso a missa não é uma repetição, mas uma atualização, a cada ano muda o conteúdo das leituras e a cada tempo litúrgico celebrado envolve-se por um mistério, e tem uma essência que nunca muda que é a Eucaristia.
Neste ano como já dissemos o centro da reflexão da liturgia dominical deste ano B, a partir do Evangelho de Marcos, que vai embasar os seus textos na divindade de Jesus. Marcos nos apresentará muitos milagres operados por Jesus, a partir do próprio questionamento de Jesus “Quem sou eu?” (8,28). Percebe-se aqui o porquê a messianidade de Cristo ainda não devia ser divulgada. Depois os discípulos têm a imagem do Messias terreno e depois finalmente compreendem a missão de Jesus que não era deste mundo.
O Tempo Comum como num todo, é composto de 34 semanas e nos apresenta Jesus num caminho de subida a Jerusalém para sofrer a paixão e durante essas 34 semanas ele nos mostra qual o caminho que devemos seguir para construir o Reino de Deus aqui na terra. Um Reino que se inicia aqui e que vamos vivenciá-lo de maneira definitiva no céu. Esse Reino é diferente do que era exercido no tempo de Jesus, é um Reino de amor e de paz e que pregava a inclusão de todas as pessoas.
Celebremos com alegria mais um Ano Litúrgico e participemos desse corpo místico que é a Igreja, celebrando a espiritualidade que cada tempo nos proporciona, vivenciando na nossa vida os mistérios de Cristo. Vivamos no dia a dia o nosso batismo, sendo “sal na terra e luz no mundo” para quem nós encontrarmos.
Créditos: Site CNBB
por Cardeal Orani João Tempesta – Arcebispo do RJ
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