Seu nome era Habuc, pastor de profissão. de tradição. Era pastor como fora seu pai, seu avô, como eram seus irmãos. Com preocupações de pastor, com deveres de pastor, com cheiro de pastor. E isso parece desde sempre.
Mas naquele dia, Habuc estava cansado, desanimado com o pasto escasso, com ovelhas que já davam sinal de fome. Por isso, juntou-as e, um pouco curvado, tomou o cajado e partiu em direção ao rio. Talvez às margens do Jordão encontrasse erva verde para suas ovelhas, repouso e avio para se cansaço, paz para seu espírito agora inquieto.
Junto com suas ovelhas, tratou de caminhar quatro longos e pesados dias e foi com misto de desespero e alegria que finalmente avistou o rio. Sedento e quase sem forças, apressou o passo, tocou as ovelhas e mergulhou o rosto quente na água fresca. Enquanto seu rebanho também se saciava, percebeu que não longe dali, havia um grupo de pessoas; algumas na água, outras na margem. Ficou curioso porque não parecia que estivessem tomando banho ou buscando água. Timidamente foi se aproximando e se impressionando; dentro do rio, um homem, mal coberto por uma pele de camelo, aspecto desleixado demais, porém de voz firme, falando algo que Habuc não conseguia entender bem. Perto dele, também dentro do rio, outro homem, igual a qualquer outro do povo, inclinava-se para que o outro primeiro lhe jogasse água na cabeça. Habuc também não entendeu, mas ouviu claro e bem alto uma voz que dizia: ‘Este é meu filho muito amado’. Mesmo não identificando quem falara aquilo, sentiu suas pernas tremerem e precisou sentar-se numa das grandes pedras. Tinha a impressão de que sua cabeça ia explodir e que seu coração fosse sair do peito.