Nestes dias que antecedem o Natal, as ruas da cidade se enchem de enfeites, de luzes, de música. Uma atmosfera festiva e mais humana faz com que fatos incomuns aconteçam. É um fato desses, que aconteceu noite dessas, que queria lhes contar, porque ocorreu perto daqui, bem no coração da Av. Paulista.
Tudo começou quando um jovem publicitário viu um mendigo vestido com um cobertor, daqueles cobertores que chamamos de pobre. O caso é que a forma como ele a vestia dava-lhe um ar de pastor. E o publicitário, homem cristão e de coração nobre e generoso, imediatamente associou a imagem do mendigo, perdido na noite das luzes e estrelas da avenida, à dos pastores que receberam o anúncio do anjo e foram ver o Menino Deus.
Durante várias noites, o publicitário viu o mendigo, sempre no mesmo lugar, vagando e vagando. Até que certa vez, resolveu abrir a janela do carro e falar com ele: “Feliz Natal, meu irmão!”. Bem verdade que a saudação pareceu-lhe um pouco estúpida e inconveniente, mas a presença daquele pastor das noites da rua realmente o intimidava. Bem verdade que a resposta o deixou ainda mais sem jeito: “Viva meu Rei! Viva meu Rei!”
Bastou aquela saudação para que o coração do publicitário, que já disse que era bom generoso e nobre, se enchesse de luz e de grande alegria. Chegando a sua casa, contou tudo à sua esposa e tomaram uma decisão: fariam uma noite de Natal com os pobres da avenida, visto que eram muitos, mesmo que nada falassem, mesmo que não se parecessem com pastores.
E assim, com seus dois filhos, eles foram uma noite dessas para a avenida e levaram cestas com comida e bebida e escolheram uma daquelas árvores bem iluminadas e bonitas para reunirem o pessoal que iam encontrando. Não distribuíram comida, mas fizeram uma refeição de partilha, onde serviram pessoalmente a cada mendigo, a cada criança, a cada solitário. O mendigo da capa não mudou de ideia e continuou a gritar entre os convivas “Viva meu Rei! Viva meu Rei!” Sem dúvida, quem deles se aproximou sabia que Jesus, Cristo Menino e Rei, estava ali, aclamado na vida de seus eleitos.
O que preciso ainda lhes contar é que, infelizmente, esta história não é verdade. Não é verdade, mas poderia ser, porque a verdade mais pura e cristalina é que Jesus Cristo nasceu e está entre nós. E também porque é verdade que um mendigo vestido de cobertor, tal como um pastor, ainda está perambulando pela avenida a gritar “Viva meu Rei! Viva meu Rei!”.
Nada nos impede de irmos aclamar nosso Deus, Senhor e Rei em sua companhia.