É a Igreja a amada, a desejada, o objeto de todo o amor de seu amado.
É o amado, o Senhor da Vida, o Ressuscitado.
É a amada que neste dia e nesta hora, olhos ainda ofuscados pela intensa luz que a tudo invade, a começar por suas próprias entranhas, e toma-lhe a alma que se arriscava a tatear no escuro, em busca de seu próprio sentido, é a amada que se lembra daquela madrugada.
É a amada que, ainda trêmula, traz à memória de seu peito virginal, aquele encontro no jardim. Era um jardim fechado. Ouvia-se apenas o vento frio da morte a vagar entre os túmulos onde se encarcerava a tristeza.
Era um jardim fechado em luto. Vigiado.
Era um jardim fechado que, apenas apenas, ia se abrindo à luz.
A névoa da manhã confundia as lágrimas da Madalena, perfume em mãos para untar o corpo morto do Senhor.
É a amada que se recorda dos dias de seu Senhor, passados na casa dos amigos e do perfume raro derramado pelos cabelos do Mestre. Era mirra. Puríssima mirra da Arábia, comprada na rua dos bálsamos em Jerusalém. Perfume denso de sentidos, servia para a vida, para ungir o noivo, servia para a dor, para aplacar sua invasão, servia para a morte, para preparar o corpo inerte e mudo.
Nesta hora, há perfume no ar. Quem aqui não percebe? Sente-se a mirra preciosa.
E a amada pressente a presença do Noivo.