Ainda a névoa da madrugada esconde a claridade e meus próprios olhos são fracos e meus passos incertos e hesitantes.
Apalpo quimeras porque não vejo claramente, ainda que meu coração insista em me lembrar da esperança.
És tu, senhor?
Mas, há dois dias, te vi morto numa cruz infame e toda a terra gemia com as lágrimas de teu sangue. Sinto a dor de tua paixão a percorrer minhas entranhas, mas uma certeza ainda mais intensa me diz que estás vivo.
Ès tu, senhor?
Pouco entendo das Escrituras, pouco faço de meus dias, mais não posso me esconder da intensidade de teu amor, da luz de teu olhar, da força de tuas palavras, do encontro que me deu um destino verdadeiramente humano.
És tu, senhor?
Aqui estou eu a velar, a espera do cumprimento de tua palavra, de tua promessa de vida. A nevoa da madrugada envolve quase todos os meus atribulados dias, cheio de agitação e vazio. Mas pressinto humildade a aurora, não pelos méritos de minha fé, mas pela misericórdia de tua bondade.
Sim, és tu, Senhor.
Vivo e ressuscito, como prometeras. E ainda que meus olhos mal te vejam, ofuscados por tanta luz, reconheço o túmulo vazio e o coração do universo plenificado pela redenção.