Como em todos os acontecimentos extraordinários, também no Milagre de Fátima, há os aspectos superficiais, que se vêem quase a olho nu (o fenômeno, como diriam os técnicos), e o que só o homem interior consegue descobrir.
Ou porque tem o hábito da meditação em profundidade, ou porque se abre à iluminação de graça, que ajuda a penetrar no coração das coisas.
Fátima acontece no início do último século de um milênio que está marcado pela luta quase planetária do homem em busca do domínio total sobre o mundo, uma luta que, em si mesma, corresponde à sua vocação primordial – possuir e dominar a Terra – mas que muitas vezes se transformou num esforço igualmente titânico contra Deus.
Chegamos a este final do milênio sabendo coisas acerca de nós e do mundo que nem as previsões mais otimistas de há um século apenas seriam capazes de sonhar, mas damo-nos também conta de que a aplicação desses conhecimentos conduziu o homem a um beco sem saída de tal modo que nunca como hoje se sentiu desamparado, no centro de um mundo que, quanto mais se lhe revela, mais pavor lhe causa.
É para o homem, assim perdido no meio das perspectivas que lhe criam abusos do seu próprio poder, que surge o grito de Fátima: uma serra inóspita, três crianças simples, sem outra bagagem que a riqueza dos valores humanos cristãos, conservados no seio de duas famílias, tão felizes quanto fecundas.
Três crianças que, a partir de um dado momento, afirmam sem vacilar que encontraram Deus no seu caminho e não querem senão que as deixam tomá-lo a sério, contra tudo e contra todos: até correndo o risco de perderem o que o homem mais aprecia neste mundo e sem o qual nenhuma criança sabe descobrir para que serve a vida, ou seja, o carinho dos pais.