Em Fátima, tanto a Anjo como Nossa Senhora, aliás, repetindo gestos e palavras que aparecem freqüentemente na sagrada Escritura, iniciam o seu diálogo com as crianças procurando tranqüilizá-las: Não tenhais medo! Eu sou a Anjo da Paz. – Não tenhais medo! Eu não vos faço mal.
O medo é de fato, o estado de espírito mais generalizado, numa civilização como a nossa, em que a decadência se confunde com a inversão de valores e o secularismo mais radical, que espanto, pois, se Deus reinicia o seu diálogo com o homem convidando-o a libertar desse medo, já que só ele pode estar na sua origem?
Os relatos bíblicos transmitem-nos as palavras com que o senhor teria explicado a Adão e Eva o porque do estado em que se encontravam (Gen.3,11). Em Fátima são os gestos, quer do Anjo, quer de Nossa Senhora, que, dando seqüência ao convite a não terem medo, apontam, ao mesmo tempo a fonte e o remédio desse medo:
Rezai comigo: Meu Deus, eu creio, adoro, espero e amo-vos… Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo… (Primeira e Terceira aparição do Anjo). O Santíssima Trindade, eu vos adoro… (Aparição de 13 de maio).
Numa palavra: se não queremos ter medo, nem do natural nem do sobrenatural, aceitemos o mundo como ele é: criatura de Deus, que lhe dá o ser em toda a sua plenitude, é sua origem e seu fim, logo, única fonte de significado para ele.
Aqui temos o convite fundamental de Fátima: aprofundar a nossa vida teologal; procurar que todo o nosso ser e agir esteja impregnado do crer, do esperar e do amar que se centra em Deus… Deus, que é alguém, tão profundamente pessoal que se nos revela em três pessoas: Pai, filho e Espírito Santo.
E perante este mistério, que nos atemoriza e nos arrebata, cairmos de joelhos, prostramo-nos em adoração, não para fecharmos os olhos à realidade histórica em que estamos mergulhados, mas para lhe pegarmos com redobrado amor e entusiasmo, porque nesse gesto descobrimos o sentido das coisas, que brotam do amor desse Deus, uno e trino.