Não podia ser de outro modo, se Fátima nos recorda o essencial da mensagem evangélica, que é a necessidade de tomar a sério o amor com que Deus nos cria e nos salva, tem de mostrar os caminhos para chegar a ele, tem de conter referencias aos espaços de encontro dos homens com esse amor.
Ora, tais espaços são fundamentais a Igreja, com a doutrina e os sacramentos que nela deixou o amor eterno do pai, revelando-se no Filho, pelo Espírito santo.
Mantemos o esquema trinitário da eclesiologia do Vaticano II e compreendermos mais uma vez o sentido daquela oração ensinada pelo Anjo aos videntes, na Eucaristia, o sacramento dos sacramentos, que faz a Igreja e é feita pela Igreja, como diria um grande teólogo dos nossos dias.
Por isso ela ocupa um lugar central na prática cristã para que aponta a vida dos pastorinhos, sobretudo após a terceira aparição do anjo, mas também antes, basta pensarmos nas enternecedoras conversas acerca da comunhão e do Jesus escondido.
Alguns objetarão que na mensagem de Fátima há poucas referencias e ainda assim, apenas indiretas, à Eucaristia como celebração é, sobretudo a presença real e o intimismo da adoração e da comunhão sacramental que entra na perspectiva dos videntes e dos seus primeiros intérpretes.
A isso respondemos dizendo, antes de mais nada, que se trata de um dos aspectos sobre os quais o estudo da documentação poderia lançar alguma luz.
No entanto, não deixa de ser importante realçar o significado da acentuação antecipada de uma perspectiva que os exageros da leitura parcial de alguns textos do Magistério ameaçaram apagar por completo.
Mas o que talvez seja mais digno de nota é como também em Fátima se pode ver a pedagogia divina, concretamente neste pormenor, como poderiam aquelas crianças entender uma linguagem que cinco décadas mais tarde alguns Pastores e teólogos entenderam tal mal?
Seja como for, a piedade eucarística dos videntes, sobretudo nos anos de que falam as Memórias da Irmã Lúcia, faz parte integrante da mensagem de Fátima e como tal tem de ser estudada, ela apresenta-se como resposta total da pessoa ao amor eterno de Deus, presente na Igreja e em tudo o que nela é celebração do ministério de cristo… Da palavra aos sacramentos, passando pelas ânsias de salvar o mundo, que encontramos na evangelização e no apostolado pessoal. Todos estes temas aparecem na oração do Anjo, que será um dos textos sobre que terão de se debruçar demoradamente àqueles que quiserem estudar a teologia da mensagem de Fátima.
Falamos dos anos que se referem às Memórias e que vão da Primavera de 1916 – primeira aparição do Anjo – à primavera de 1922 – morte de jacinta, pensamos que eles constituem o essencial da mensagem de Fátima, não só pelo que durante eles aconteceu, mas, sobretudo porque a eles se terá de voltar sempre para compreender o resto.
É por isso que, em nosso entender, as especulações à volta do SEGREDO particularmente da chamada terceira parte e do que poderia dizer-nos a vidente ainda viva, serão perigosas tentações, porque ameaçam permanentemente fazer-nos esquecer o que nos dizem as palavras e a vida das crianças, que é onde teremos sempre de ir procurar o significado do resto. A não ser que queiramos transformar Fátima noutra coisa qualquer, que, boa ou má, não seria nunca a que Deus quis para a humanidade deste século.
Eucaristia – adoração, comunhão reparadora (O coração Imaculado de Maria é o caminho mais curto para, através da Igreja, chegar à profundidade do amor de Deus) – o Papa, a Igreja, a Santíssima Trindade, que o vaticano II quis ver refletida no mistério do Corpo Místico de Cristo.
Não se percebe como foi possível chegar ao septuagésimo quinto aniversário das Aparições sem ter extraído delas toda a riqueza que aí se encontra, a não ser pelo fato de cairmos tantas vezes na tentação referida, de irmos à procura do sensacional, do que só uma desenfreada especulação pode descobrir em certos por menores, que perdem sentido fora do conjunto.
O que Fátima nos diz é o mundo irá de mal a pior, se não se volta para Deus, que era o que diziam já os profetas, quando viam os responsáveis pela vida de Israel à procura de remédios para seus males, sem se inquietarem com as indenidades individuais e coletivas à Aliança.
E diz-nos ainda Fátima que não temos outro caminho para regressar a Deus senão aprofundado a relação com ele, criada a partir do batismo e que depende da nossa vida eclesial.Por outras palavras, depois da Encarnação, não se vai a Deus sem a mediação da Igreja.
Enquanto não pudermos dispor de uma edição crítica dos documentos, será sempre arriscado dizer em que medida, por exemplo, revelações posteriores, ainda não reconhecidas pela autoridade competente, estão incluídas no que sabemos da época das Aparições e anos imediatos, continuamos a considerar o limite da morte de Jacinta.
É o que acontece, por exemplo, com a consagração do mundo ao Imaculado Coração de Maria. Se bem que seja para nós um gesto profundamente significativo à consagração realizada pelos Papas, sobretudo a que João Paulo II levou a efeito, a 24 de março de 1984.
Mas, seguindo precisamente a teologia da consagração exposta pelo mesmo Sumo Pontífice em Fátima, a 13 de Maio de 1982, damo-nos conta de que a Virgem Santíssima, a primeira coisa que pede aos pastorinhos, em 1917,é uma consagração, uma entrega total a Deus, por intermédio de Sua e nossa Mãe.