O local ao menos era quente: a palha seca detinha a umidade e o corpo dos animais segurava a ventania. Maria deitou-se para descansar, José vigiava discretamente, contando estrelas e pensando na descendência de Abraão. A noite tomava posse das casas e impunha seu silêncio. E foi no obscuro silêncio que Maria viu entrar no abrigo uma mulher. José não se dera conta, distraía-se a conversar com o Senhor.
Não era velha, mas seus olhos muito negros e grandes conheciam o sofrimento dos longos dias. Era a serva da hospedaria. Estrangeira e estranha para todos. Contavam-na com os burros e as ovelhas. Seu nome era Saraí e significava princesa, mas ela era a última das servas. Morava de favor, trabalhava de obrigação; tinha serviço, mas não tinha um leito; nunca lhe sobrava um tempo e contentava-se com o que lhe sobrava de comida.
Insinuou-se tão discretamente que o silêncio permaneceu profundo, majestoso. Sentou-se tímida ao lado de Maria e acariciou-lhe os cabelos úmidos de madrugada. Percebeu-lhe no olhar o brilho iminente de mãe e apressou-se para buscar água.
Quando voltou com água quente e faixas, Maria já segurava o Menino nas mãos. Seus olhares se cruzaram e brilharam com lágrimas de pura alegria. Ajudou a dar o primeiro banho e a jovem mãe envolveu-o nas faixas. Saraí escolheu palha nova, limpou o lugar, ordenhou uma vaca, deu leite e mel para a mãe, trouxe a pedra ainda quente e assou o pão fino que serviu ao pai engasgado de felicidade, que descobria que, com o Senhor, é possível ser sempre mais feliz, separou uma manjedoura e improvisou um berço. Falava pouco como sempre, mas não perdia um detalhe, um gesto. Estava lá para servir e nunca servira com tanta felicidade. Rezou com os pais, descobriu que o Menino tinha um nome amável e não estranhou quando uma multidão de pastores foi chegando eufórica, falando de anjos, de uma nova e brilhante estrela, de um Salvador. Buscou explicações nos olhos da Mãe e encontrou um grande sorriso, certamente ainda mais luminoso do que aquela estrela de que falavam. Voltou-se para o Menino diante do qual os pastores se ajoelhavam e sentiu a vertigem que uma grande revelação provoca. Sentou-se num canto para o coração não explodir e lá ficou, acariciada pela certeza de que Iahweh se manifestara.
Com a vida em festa, levantou-se e ordenhou novamente a vaca: era preciso dar um pouco de leite àqueles pastores da noite, talvez com um pouco de mel e talvez com um pouco de pão. E o leite veio generoso e abundante, muito mais do que podia se esperar, e o pote de mel parecia não ter fundo e a farinha, mesmo sem fermento, crescia. Em sua lógica de cozinheira, ela não entendeu e buscou novamente o olhar da Mãe que sabia que, com seu Filho, aquelas coisa seriam normais.
Saraí, a última das servas, naquela noite, sentiu-se amada pela primeira vez e revelou-se princesa a servir o maior de todos os reis, o único Senhor.
Que neste Natal, como a serva Saraí, nós estejamos à disposição da Sagrada Família, que cuidemos do Menino Jesus e de todos os meninos da Terra, que nos invada a alegria infinita da revelação, que nos transforme os dias a certeza de que, junto ao Senhor, podemos ser sempre ainda mais felizes.