Continuando, deu a Esperança e colocou-a no coração humano junto com um eterno desejo de felicidade, desejo de herdeiro que quer tomar posse de seu Reino. Seria a virtude dos momentos sombrios, aqueles em que os homens pensariam estar abandonados.
E toda a criação agradeceu a Deus, porque os homens esperariam sempre no seu Senhor.
A Caridade ardia no coração de Deus: queria logo se instalar no peito humano e animar a vida que pulsava no universo. Seria pela Caridade que a alegria, a benevolência, a generosidade, a liberdade, a paz, a misericórdia viriam ao mundo.
Era a Caridade, sem dúvida, a virtude mais importante e, no pensamento de Deus, latejava uma forma para entregá-la aos homens. Estava o Criador tão feliz, que os planetas entraram em órbita, astros, antes escuros, começaram a brilhar ao compasso do Sol.
Deus, realmente apaixonado por aqueles que criara à sua imagem e semelhança, sabia – em sua onisciência – que a Caridade só poderia vir ao mundo em carne e sangue. E, num instante de paixão e dor indizíveis, o olhar de Deus pousou sobre seu Filho. E Ele compreendeu que deveria ser o Messias.
Nossa mente não pode compreender o que se passou no seio da Trindade naquele momento, mas convulsionou-se a história de toda a vida, dali em diante, plasmada pela única lei de um amor incondicional.
Incondicional seria o sim de uma menina pobre que, incondicionalmente, queria ser a serva do Senhor, que aceitaria ser uma mãe virgem. Incondicional seria a adesão de um carpinteiro que aceitaria cuidar do Filho de Deus e de sua mãe.
Incondicional seria a fé e a esperança de todos aqueles que preparariam, no decorrer dos tempos, a vinda do Rei.
E assim, na plenitude dos tempos, Deus entregou seu Filho que, na carne e no sangue, nasceu entre os homens. Não lhe poupou de nada: nem da pobreza, nem do descaso, nem do frio, nem da indiferença. Nasceu rodeado de animais, porque as gentes lhe fecharam as portas; os primeiros a verem o Menino eram pastores rudes, amantes das paisagens e conhecedores de estrelas.
Na noite primeira dos tempos definitivos, Deus do universo debruçava-se sobre um berço improvisado de palha e sorria, incondicionalmente apaixonado… por aqueles que criara.
Bem que os anjos insistiram em acrescentar algo ao canto que entoaram por toda a terra, algo que lembrasse aos homens aquele amor imenso. Mas o Criador impediu-os porque o amor é incondicional, não se impõe, não estabelece contratos, mas é livre como o vento que percorre os altos cumes, como as ondas que provocam as areias, como a luz que se infunde e se esvai ao sabor das horas, como a música que entra e sai dos rincões e das planícies.
Nascia Jesus. “Deus conosco” era também “irmão conosco”, porque, agora, aprenderíamos o sentido real de sermos filhos, livres, justos, fiéis. Começava a primeira aula de amor incondicional. O Mestre estava entre nós, incondicionalmente entregue e presente.
A Caridade chegara ao coração dos homens, direto do coração de Deus, para fazer sua morada definitiva aqui entre nós
E toda a criação agradeceu a Deus, porque descobrira seu sentido, sua razão e por quem pulsaria – incondicionalmente reverente – por toda a eternidade.